sábado, 22 de setembro de 2007

"O caçador de pipas"

Nessa semana que passou li O caçador de pipas, de Khaled Hosseini, o tão comentado romance sobre a amizade meio tortuosa de dois meninos afegãos.
Eu queria fugir dos clichês e não falar de como é bom conhecer o dia-a-dia do Afeganistão antes e depois de invadido tantas vezes por tantos grupos. Claro que isso é muito legal no livro, mas afinal é o que ocorre com todos os livros que lemos. Conheci um pouco da Colômbia com García Márquez, do Peru com Vargas Llosa, de Portugal e das Canárias com Saramago.
Óbvio que o atrativo do Caçador de pipas é a maioria das pessoas não ter idéia remota do que acontece no Afeganistão!
Sempre penso nisso: como sabemos tão pouco sobre os lugares que não estão sempre nos cinemas, na tevê, nos livros. E toda vez imagino o quanto sabem pouco de nós, também. É natural, acho. Só os muito cultos conhecem muito de muitos lugares do mundo, penso pra justificar minha ignorância.


Mas O caçador de pipas me trouxe várias outras reflexões: como é doloroso ter a vida completamente modificada de um momento pro outro. Como ter dinheiro, propriedades e até prestígio não garante em nada que você vai manter tudo isso pra vida toda, se bem que o prestígio, se vindo de uma boa origem, como fazer o bem indiscriminadamente, permaneça e possa ajudar muito a segurar a barra, mesmo que se percam as coisas.
E como, afinal, mesmo quem perdeu tudo o que tinha muitas vezes não percebe que, quando tinha, vivia melhor que muita gente, que já levava uma vida bem difícil antes do seu país se desmantelar todo.


Outra coisa importante que pensei é como a covardia não leva a lugar nenhum.
Eu me considero MUITO medrosa. Morro de medo de agressão, mutilação física. Acho que, se me visse ameaçada de apanhar muito, ia desejar por tudo que algo mágico ou alguém heróico me salvasse. Mas a história de Amir mostra de modo meio simbólico que, se a salvação vier pela covardia, você nunca fica livre, a menos que enfrente um dia a dor que evitou ao ser covarde.


Aliás, isso me lembra que, apesar de eu ter me emocionado tanto com o livro a ponto de quase chorar em alguns momentos, alguma coisa no estilo do autor não me agradou totalmente. Ele tem um negócio de mudar toda hora o tempo da narrativa, com verbos ora no presente ora no passado, que me incomoda um pouco.
Além disso, achei que a história vinha muito boa, bem dosada com a ficção num contexto muito realista, mas o momento máximo da resolução do conflito - digamos assim -, o auge da redenção ficou muito irreal. Aquele personagem me pareceu fora de lugar. Achei que o autor forçou a barra pondo-o ali, não precisava. Ajudou pra formar a simbologia de que falei ali atrás, mas, mesmo assim, achei muito exagerado e inverossímil. De qualquer modo, no geral é um bom livro, e vale mesmo as tantas recomendações que recebe.
Tanto que vou ler, quando der, A Cidade do Sol, que também anda elogiadíssimo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Coincidência! Também li O Caçador de Pipas na semana passada...
Ao contrário de você, chorei várias vezes...rsrsrsrsrs Algumas coisas existem e fazem parte da vida de muita gente, mas quando exposta, incomoda e dói.
Também adorei o livro e agora preneto ler A cidade do Sol.
Beijos!!!!

Anônimo disse...

Correção:
"quando expostas, incomodam e doem"

Pra não ser estraga-prazer!

No começo, eu evitava falar das tramas dos filmes, livros e séries que comento aqui, mas isso limita muito e, com o tempo, dei mais liberdade às minhas postagens.
Porém, como eu não gosto que me contem as histórias, como eu adoro as surpresas que os criadores geralmente nos preparam com tanto esforço, não quero estragar o prazer de ninguém.
Se você é como eu, melhor ler ou ver antes. Mas convido-o a voltar depois, pra saber o que eu achei.