segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Harry Potter no cinema

Então que nas férias levei as meninas pra ver a bendita segunda parte do Harry Potter e as Relíquias da Morte.
Como eu já imaginava, é irritante de tão ridículo. Tá bem, vamos que seja possível desconsiderar todas as falhas gritantes na adaptação do livro pro cinema, por causa da diferença de linguagem, da necessidade de enxugar os detalhes etc. O que não dá pra entender é que um livro que é cheio de emoção, que me fez chorar várias vezes, sentir medo outras tantas, sofrer com o risco de os personagens mais queridos morrerem, que me deu até vontade de amarelar, não ler e esperar alguém me contar, de tanto medo de ver alguém de que eu gostava morrer, virar um filme tão frio. Eu não me emocionei nem um pouco (a menos que consideremos a raiva uma emoção válida para este caso). E eu chorava no "Gente que faz", do Bamerindus, vai vendo.
Esse é pra mim o defeito mais grave.
Mas tem também os detalhes.
De início, o filme devia se chamar Harry Potter e A RELÍQUIA da Morte. Porque eles praticamente ignoram a pedra e, principalmente, a capa. Que, lembremos, é uma das relíquias mais significativas na história. É por causa da capa que o Harry passa a acreditar que as relíquias da morte não são só uma lenda, um conto infantil. Além do mais, tem o aspecto simbólico de cada uma das relíquias, que fica bem claro quando o Xenofílio pergunta aos meninos qual delas eles escolheriam, se pudessem. Cada um escolhe aquela que tem mais significado pra sua vida. Mas isso eu nem esperaria mesmo que aparecesse no filme, claro. Porque, a despeito de todas as mensagens morais que a história traz, eles só consideram os fatos puros, e malemal. Mesmo assim, esperaria que a capa da invisibilidade do Harry, importantíssima em toda a história e mais ainda neste último livro, fosse usada mais que uma vez nas duas partes do filme.

Além disso, é ridículo que os produtores não consigam resistir à tentação dos efeitos de computação: porque, oras, me digam de onde surgiram tantos comensais da morte como aquela multidão que aparece na hora da batalha. Acho que não deve haver nem aquela quantidade de bruxos no mundo do Harry Potter, francamente! Me lembrou a mesmíssima escolha equivocada, chamemos assim, que aparece num dos momentos de O Senhor dos Anéis.

Outra coisa estúpida é a suposta despedida entre o Harry e a Hermione e o Rony. Ele dá um abraço nela, deixa claro que vai morrer e mal olha pra ele. Pô, não são melhores amigos? Emoção igual à que ele demonstra quando vê o espectro do pai, junto com os outros que tinham morrido, ao rolar a pedra da ressurreição.

Aliás, aí é a única parte em que se menciona, beeem de passagem, o filho do Lupin. Que é outro elemento bastante significativo no encerramento da história, porque, como o Harry, também fica órfão ainda bebê, na batalha da Ordem da Fênix contra os bruxos das trevas, mas, ao contrário do Harry, cresce feliz, com uma família substituta que cuida dele, o ama, respeita etc. Ou seja, num mundo em que as trevas não têm mais lugar. Mas pra que dar bola pra isso, certo?

Um outro troço que enlouquece é a falta de coerência dos filmes entre si (que às vezes aparece num mesmo filme, aliás). Se todas as lembranças armazenadas em frasquinhos eram tiradas da têmpora, em forma de luz brilhante, por que raios as do Snape eram lágrimas??!! Tá, eu sei que era pra mostrar que ele tava triste, mas putz, mostra ele chorando e tira as lembranças das têmporas, caramba! O público não é tão burro assim que não compreenderia duas coisas tão simples acontecendo ao mesmo tempo na cena.

E, só pra não encher muito o saco, um negócio pra lá de imbecil: se todos os bruxos morrem e seus corpos ficam estirados pela escola, inclusive os comensais da morte, por que é que a Belatrix e o Voldemort desintegram? Vai, eu até acharia só imbecil, mas aceitável, se fosse só o Voldemort, que, afinal, está só com um restinho de alma no corpo, porque outros 7 pedaços dela tinham sido mortos com as horcruxes. Mas a Belatrix, pelamordedeus! É ridículo demais.

Enfim, na minha opinião esses filmes não servem pra nada, a não ser pra gerar rios de dinheiro pros envolvidos na produção. E, pra abafar todas essas ofensas aos livros, que, já ficou claro, estão na lista de preferidos de todos os que já li, nada melhor do que jogar holofotes no elenco, na vida supostamente pessoal dos atores, especialmente os jovens, explorar bem o seu lado celebridade, que assim os fãs da série passam a endeusar os filmes a despeito dos seus furos absurdos.

É a cara da cultura pop destes nossos tempos, infelizmente.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Falando nisso...

Falando em música brega, hoje vim pro trabalho ouvindo esta na maior altura.
Bregérrima, eu sei.
Mas adoro!

Eu me dei uma chance de ver Glee

Todo mundo falando, postando, curtindo, e eu, de início por puro preconceito, resistindo. Era assim com Glee. Até essa logo me irritava, justamente pela referência aos loosers, um dos clichês americanos que mais me irritam.


Depois vi uns episódios aleatórios, na tv, e aí não era só preconceito. Achei bem clichê mesmo, e ainda pensei que os caras tinham achado a fórmula mágica de fazer um filme de high school que podia não acabar nunca. A cara dos americanos. Mas depois de ver um vídeo do musical com a Gwyneth Paltrow que mistura Singing in the Rain com Umbrella fiquei mais a fim de ver qual era a de Glee.

O convencimento total veio deste post que recebi de um amigo. Embora eu nunca vá dizer o nome dele. :)


Por aqueles dias, eu e minha amiga usamos uma música velhinha do Roberto Carlos numa aula que damos pra jovens (entre 17 e 19 anos). Eles mais ou menos torceram o nariz pra música, e nós falamos do preconceito que também tínhamos com o Rei quando éramos adolescentes. Eu mesma detestava, chamava solenemente de o Rei do Brega e tals. Mas hoje em dia ouço primeiro uma música, vejo qual é, e nem da própria figura do cantor, apesar de tudo, eu tenho mais aquela imagem tão ruim de antes.

O que isso tem a ver com Glee?

O fato de que a gente pode, sim, e na verdade deve, olhar melhor pra uma coisa que, de início, parecemos desprezar, como diz o Moura, autor do post. Porque pode ser que a gente é que ganhe.


Foi o que aconteceu comigo e Glee.

Não só curti, mas viciei.

No início, só achei que não era mesmo aquele clichê todo que tinha imaginado e que valia a diversão. Afinal, por que é que tudo tem que ser só culto e cheio de conteúdo o tempo todo? Mas com o tempo até essa visão vem mudando. Porque, apesar do ritmo e da direção bem divertidas, que tornam leves os assuntos de Glee, e apesar de todos os romances típicos das novelinhas adolescentes, o Glee não é fútil. Pelo menos não o tempo todo.


Algumas das coisas de que mais gosto:


A primeira é o fato de estar cheio dos clichês próprios das high schools americanas (sei lá o que representa esse período pra eles, nunca morei nos States nem convivi com americanos, e aqui no Brasil - graças a Deus! - a gente não tem isso, ninguém fica o resto da vida lembrando de como era no segundo grau nem essa época marca tanto assim a gente, mas sei que deve ser muito importante pra eles, dada a quantidade absurda de filmes sobre o assunto, inclusive os que fazem os protagonistas voltarem pra escola!), enfim, está cheio dos clichês, mas subverte-os o tempo todo. Às vezes, é pela caricatura mesmo. Os personagens mais vilões, como a Sue, treinadora dos líderes de torcida, e a Terri, (ex) mulher do Shue, têm uma atuação (e uma direção, claro) mais caricata, decerto pra amenizar as maldades, que tem hora que são brabas - como derrubar a enfermeira idosa da escola pela escada, por exemplo. E essa caricatura, quando não é pela atuação, pode ser pelo figurino: as líderes de torcida não tiram aquele uniforme ridículo nem pra jantar num restaurante legal. Parece meio desenho animado, história em quadrinhos. Quer dizer, o que de início parece a razão pra não gostar do Glee é, no fundo, o que atrai pra ela, se a gente olhar com atenção. Os clichês estão ali pra serem questionados mesmo.


Mas na maioria das vezes essa subversão vem nos fatos. Quando o pai do Kurt apareceu pela primeira vez, eu já falei: vixe, é o maior caretão, bruto, vai infernizar o filho. Mas quando Kurt conta que é gay, a resposta é totalmente inesperada. Toda hora você é desmontado por uma sequência que não imaginava.


Outra coisa muito legal é que não tem aquele mundinho cor-de-rosa do High School Musical. Os caras fazem um esforço danado pra trazer os jogadores de futebol e as líderes de torcida pro coral (o glee), eles curtem muito, mas continuam morrendo de vergonha. E são sacaneados pelos outros jogadores, mesmo quando continuam no time. Quer dizer, não tem aquele universo ideal em que todo mundo compreende as diferenças, respeita todas elas e se tolera depois de uma grande revelação! Nada disso. Um cara que jogava os outros na lata de lixo depois passa a ser jogado só porque perdeu o moicano. E, quando o cabelo cresce, ele mesmo volta a fazer com os outros o que tinham feito com ele. Isso parece reforçar o sistema, mas o que faz é ridicularizá-lo ainda mais, com base na sua própria inconsistência. Escancara que o que é popular ou perdedor, nas escolas americanas, são os estereótipos e não as pessoas que os representam em dado momento. Ao contrário de todo filme sobre o assunto que a gente já enjoou de ver.


Eventualmente algum personagem compreende que tem de mudar mesmo de atitude, de modo definitivo. Mas isso é gradual e todo mundo pode ter recaídas. Ou seja, os personagens, por mais caricatos e clichês que sejam, são densos, têm conteúdo, ninguém é totalmente mau ou bom, inocente ou vagabundo, cruel ou amoroso. A Sue ama, o Shue sacaneia, a Rachel é uma mocinha insuportavelmente egocêntrica, o Finn é um cara legal mas quer ser popular, o Kurt defende seus direitos mas é arrogante, a Quinn é fútil mas ajuda a Mercedes...


E ontem eu assisti a um episódio que me fez respeitar muito mesmo a série.

Já tinha tido um assim na primeira temporada, que é quando a gente conhece a irmã da Sue. Além da surpresa em si, a cena é ótima. A diferença na expressão facial da atriz (Jane Lynch) é mínima: a gente vê ali o amor pela irmã, mas não some totalmente a ironia e a crueldade que ela sempre externa.

Mas neste da segunda temporada, o Finn chama o Kurt pra dançar na festa de casamento. Achei muito, mas muito significativo mesmo. Você imagina um garoto de 16, 17 anos vencer preconceitos tão fortes e dançar com outro, e feito de uma maneira muito real, muito convincente. Tudo depois de altos vacilos na defesa do menino contra o valentão da escola, por causa de uma necessidade de ser popular. Foi a cena de que mais gostei em toda a série, até agora.

Se nada mais tivesse valido, valeria por ela. E eu já tinha achado isso no episódio sobre as deficiências, lá na primeira.

Taí. Se alguém tem preconceito contra Glee e, como eu, quer ver qual é, pode escolher um desses dois episódios, o "Wheels", da primeira temporada, e o "Furt", da segunda. Até o nome do episódio é maneiro, não?

Se não vir toda essa densidade que eu vi, pelo menos vai se divertir bastante. Tá certo que tem muita música brega. Mas gosto cada um tem o seu. E mesmo algumas músicas bregas às vezes pegam a gente de jeito. Taí o Roberto Carlos que me deixa mentir.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Filmes (não tão) novos e velhos - Parte 2

Dia desses peguei começado na tv "Uma relação especial". Deviam ter vergonha de fazer um filme desses. A tal relação é a que se construiu entre Tony Blair e Bill Clinton quando ambos mandavam em seus países. Além de o filme mostrar a Inglaterra como um país bem sem importância no cenário internacional, faz os dois sujeitos parecerem assim uns anjos, preocupados tão-somente com o bem de ingleses e americanos e também de toda a humanidade.
Será que eles contam mesmo com o fato de que todo mundo já esqueceu coisas que aconteceram há pouco mais de dez anos?
Vai ver muita gente esquece mesmo ou nem prestou atenção. Pela futilidade arrasadora que rola no twitter, dá pra ter uma ideia do que o grosso das pessoas tem em mente mesmo que o mundo pareça se acabar ao redor, seja em guerras, seja em autoritarismo, seja mesmo em catástrofes aparentemente naturais.

Em compensação, no mesmo dia achei em outro canal, infelizmente também começado, o Invictus. Este, sim, é de comprar e ver pelo menos uma vez por semana. Quando assisti no cinema, chorei várias vezes. Inda bem que Clint Eastwood fez um filme belíssimo assim sobre o Nelson Mandela, porque tanto os que vivemos na época em que ele estava preso, depois foi libertado e depois se tornou presidente da África do Sul, como os que hoje estão aí se tornando adultos ou os que aprenderam a ler há uns poucos anos, e mesmo os pequenos que fizeram 3 anos ainda ontem - em 26 de abril de 2011 :) - vão poder conhecer um pouco desse homem raro (ainda raro, infelizmente), e um caráter assim é um exemplo que não pode ser esquecido.
O bom de ser no cinema é que comove e marca, principalmente neste caso, em que o dedo do Clint Eastwood fez de uma história aparentemente banal da superação de um time desacreditado algo intenso e realmente emocionante, não pelas vitórias em si, mas pelo que elas representaram naquele momento da história da África do Sul. E da nossa humanidade.

terça-feira, 15 de março de 2011

Filmes novos e velhos - parte 1

E nessas andanças pelo cinema, vi dois filmes da moda.

O Cisne Negro achei fantástico, filmaço mesmo. Mais incrível ainda por ser um roteiro já bem manjado e previsível. O que, aliás, o diretor avisa logo no começo, pela voz do personagem Thomas, o coreógrafo da companhia de balé, quando diz que quer montar o clichezíssimo Lago dos Cisnes, mas de forma totalmente nova, "visceral". O que engrandece mesmo o filme é justamente a direção, que é incrível, e o trabalho da Natalie Portman, consequência daquela, claro. Todo mundo sabe que muitas vezes o Oscar não premia o melhor e mesmo o bom, mas neste caso, temos de concordar, eles tiveram razão. Premiaram um trabalho de primeira, maduro, inimaginável praquela atriz querida mas sempre boazinha, meiga, quase ingênua - sempre cisne branco - que ela sempre foi. Até aí a escolha do diretor foi acertadíssima, não? Pegou a atriz certa pra gêmea boa da peça e exigiu dela o inesperado trabalho que é o da personagem (sempre "sweet girl" da mãe frustrada) de encontrar o cisne negro dentro de si. Pena que pra isso tenha sido necessária tanta loucura, tadinha.
Mas Natalie Portman deu conta do desafio com perfeição. A guria tá sempre tão tensa que a sobrancelha dela praticamente não abaixa o filme todo. Até o sorriso da bichinha é tenso, incrível.
Imprescindível ver mesmo no cinema, pra deixar a tensão tomar conta da gente. Esse clima, só mesmo com somzaço, luz nenhuma e tela gigante. E sem interrupção.

Documentário fraco ou cinema chinfrim?

Coisa raríssima nos últimos anos, semana passada fui ao cinema duas vezes!
E ainda vi uma penca de filmes em casa. É bom, claro, mas eu sinto muita falta de cinema. Gosto demais, e nem me importo que seja caro. Se bem que, confesso, se o filme é ruim - ou mesmo o cinema - dá uma raiva de ter desperdiçado. Não o dinheiro, mas a oportunidade! Isso aconteceu há umas duas semanas, quando fomos ver José e Pilar no Liberty Mall. Não escolhi não, é que era o único lugar em que tava passando. O cinema é tão ruim, mas tão ruim, mas tão ruim, que até hoje não sei se o documentário é bom ou não. Minha tendência é de achar que não, mas não sei se foi pela péssima qualidade do som e da imagem, a luz horrível que deixava o filme todo escuro, o desconforto absurdo das cadeiras ou se é porque o filme é ruim mesmo.
O fato é que me decepcionei. Achei que tinha pontos bem mais interessantes pro diretor ter valorizado, além da rabujice geral tanto de Saramago quanto de Pilar del Rio. No fim ficou meio sem foco, sem objetivo.
Na verdade, também li uma das biografias do Saramago que ganhei no ano passado, e o negócio é o seguinte: saber da vida do escritor não faz muita diferença. No caso específico, só é bom acompanhar as atuações políticas que ele manteve ao longo de toda a vida, que foram marcantes e têm influência na sua obra. Fora isso, o período de pesquisa para Levantado do Chão, numa convivência com lavradores numa área rural, que foi de onde germinou a linguagem bem peculiar de Saramago. Isso eu achei bem legal saber. De resto, conhecer como ele viveu não mudou meu jeito de lê-lo. Pelo visto eu sou mesmo fã é dos escritos, mais que do escritor.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Quando eu crescer

Quando crescer quero ser assim. A Tati - Perolada - escreve deliciosamente.
E tá firme no Vigilantes do Peso, perdendo os quase 25 quilos que eu preciso tanto perder. A esta hora eu devia estar na cama, dormindo, mas a insônia tá me perseguindo de novo, e vim aqui ler a xará pra me inspirar.
Já que nunca vou fazer deste blog algo tão maneiro quanto aquele, quem sabe eu pelo menos não pego firme na disciplina, no Vigilantes e na meditação? Que já não guento mais carregar este peso todo, no corpo e na mente.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Coisas preferidas

Pacotes de papel pardo amarrados com fita (ou barbante).

Cadernos escritos à mão. E cartas e bilhetes. E cartões.

A pipoca feita pelo Rafael assim que ela sai do fogo.

O cheiro do café "passando", mais que o sabor.

Lãs numa agulha de tricô.

OS MEUS TRÊS PARTOS.

O caruru da mamãe.

A emoção ao ler uma história bem contada (como aquela que senti pelo "Arrugas" ou pelo "A menina que roubava livros").

"Nunca te vi, sempre te amei", o filme.

"Simplesmente amor", outro filme.

"Favorite Things", a música, com Pomplamoose (pelo menos por enquanto).

Ouvir uma música querida ou emocionante no fone de ouvido, no escuro, até doer. A alma, não os ouvidos.

"Inverno", a música da Adriana Calcanhoto.

"Lili", do jeito que me lembro dele, num cinema, quando criança que ainda nem lia, com a ajuda do meu pai nas legendas e a memória do gosto que minha mãe tinha pelo filme, e com a impressão de que os bonecos tinham mesmo vida.

Essas são algumas das minhas coisas favoritas. Ainda não sei se simplesmente lembrá-las vai me ajudar a não me sentir tão mal num momento de tristeza profunda, mas há muito tempo queria muito listá-las.

Leituras de 2010.

Como fiz no ano passado, vou transcrever em forma de post a lista "Leituras em 2010". Este ano, talvez pra aumentar minha contabilização, incluí os três (livros? revistas? como chamo isso?) exemplares (irgh) de quadrinhos que li no ano passado. Que ficará marcado como o ano em que fui mordida pelo bichinho dos quadrinhos. Mas ainda não conheço quase nada, sou beeeeem iniciante mesmo. Estou cercada de vários amantes de quadrinhos, que já me deram algumas indicações, mas é difícil começar. Vou aos poucos.
Aí vão pequenas impressões sobre cada uma dessas coisas que li, já que de quase nenhuma falei em especial. Pra se ver o quanto o propósito deste quase largado blog está perdido... A ordem é a cronológica de traz pra frente (existe uma palavra pra isso?), os que li mais recentemente aparecem primeiro.

"A menina que roubava livros", Markus Zusak. Adorei! Sério, é um dos melhores livros que já li. Chorei litros, desesperadamente, quando terminei. Não de tristeza. Não foi isso. Claro que é triste, não poderia deixar de ser. Mas não foi de tristeza que chorei. Foi de emoção. Ele é muito comovente. Muito mesmo. E essa é uma das coisas de que mais gosto em um livro.

"A sombra do vento", Carlos Ruiz Zafón. Tou doida por outros dele, porque adorei. Como já disse aqui.

"Pequenos Milagres", Will Eisner. Reflexo das minhas primeiras incursões em quadrinhos. Os entendidos do assunto me indicaram o papa Will Eisner. Foi a minha primeira compra de quadrinhos. As outras coisas que tinha lido tinham sido emprestadas. Gostei demais. As histórias são muito leves e comoventes. Algo que me atrai também aqui.

"O Africano", J.M.G. Le Clézio. Gostei das impressões sobre a África, mas não gostei muito do estilo. Já comentei aqui que talvez seja até culpa tradução, ou pelo menos era o que eu gostaria, já que o cara ganhou o Nobel de literatura. Ainda tenho outro Le Clézio pra ler, e aí vou poder dizer melhor sobre esse jeito dele de escrever. Um dia.

"1984", George Orwell. Uma falha que me incomodava: nunca ter lido esses clássicos da ficção. Ainda falta o "Admirável Mundo Novo", tá na fila. Já falei sobre o "1984", mas o gozado dele é que é uma leitura que fica em você. Meses depois você se pega pensando nas coisas que ele representa, no que aparentemente é maluquice mas na verdade está presente em muito do que vemos no nosso tempo, na vida real. Um alerta, sim, mas parece que quase ninguém lhe dá atenção. E não dá pra deixar passar o absurdo que a Globo (não sei se os canais de tv de outros países também, ou se vem do criador do maledito programa) fez com o Big Brother, que foi TOTALMENTE subvertido. Os fófis globais chamam de big brother os caras que participam do programa, ou seja, os que são vigiados. Primeiro absurdo. Mas outra coisa curiosa é que o Grande Irmão original proibia terminantemente qualquer atividade sexual, exceto para fins de reprodução, em que ainda assim era vedado sentir - e demonstrar, claro, o que seria captado pelas teletelas e pelo Grande Irmão - prazer em qualquer nível. E, pelo que escuto dizer, uma das coisas que mais se mostram no programa big brother é a trepação a torto e a direito. A ignorância é sempre triste, mas quando vem dos que têm acesso à informação e não a querem, é mais ainda.

"Persépolis", Marjani Satrapi. Minha segunda aventura em quadrinhos. Adorei! Gostei de tudo. O traço é bem simples, os desenhos são todos em preto e branco, mas são muito significativos. Eu não manjo de desenho. Sou uma completa nulidade nesse campo e não sei fazer nenhuma avaliação técnica. Mas curti muito. Talvez até porque uma das minhas grandes dificuldades com quadrinhos sempre tenha sido a enormidade de estímulos. Meu cérebro não processa tão bem a mistura de imagem e texto. Sério. Parece besteira, mas é verdade. E no Persépolis eu curti tudo. Além do mais, a história é pra lá de interessante, porque, pô, a gente é muito ignorante da vida dos outros países planeta afora. Tá doido, como a gente não sabe nada! E a Marjani Satrapi ajuda a diminuir um pouco nossa ignorância com relação ao Irã. Além do mais, ela tem a mesma idade que eu. Eu ouvia notícias sobre a revolução no Irã, eu lembro de ouvi-las no Jornal Nacional ou ler no Jornal do Brasil do meu pai. Foi especialmente rico pra mim ler sobre alguém que foi criança na mesma época que eu. Mas, apesar da guerra e da sofrida restrição à liberdade vividas pela autora, que também fornecem momentos comoventes, de modo geral a leitura é divertidíssima. Recomendadíssismo!

"Arrugas", Paco Roca. Taí. A minha história com o "Arrugas" é curiosa. Meu amigo um dia chegou e disse: trouxe pra você ler. Confesso que estranhei um pouco. Por que ele estava fazendo aquilo? Era um fim de semana. Prometi tentar devolver até o próximo dia de trabalho. Foi a primeira vez na vida que li alguma coisa de quadrinhos "pra adulto". Eu não sabia que havia histórias contadas assim. É sério. Eu era totalmente ignorante quanto a esse segmento. Fiquei tomada. Gostei de tudo: da história, das ilustrações, do traço bem particular. Dos personagens. Do sentido final que me ficou: ninguém quer ser só. Tomo mundo quer amar, nem que seja um grande amigo já feito na velhice. E sobretudo adorei os flashbacks. Nunca tinha pensado em encontrar flashbacks em quadrinhos, veja só.
Meu "amor" pela história em si é quase um capítulo à parte. Fiquei tomada de uma emoção intensa, um desejo profundo de cuidar dos "meus" velhinhos, de não abandoná-los jamais. Passei alguns dias com vontade de chorar toda vez que pensava na história, e chorei mesmo, pra burro, num desses dias. Cresceu também minha preocupação em envelhecer bem. Claro que a reflexão sobre o envelhecer já vinha comigo há algum tempo, provavelmente desde que completei 40, mas com o "Arrugas" muitos sentimentos vieram mais à tona. Quis até apresentá-lo numa reunião de pais da SEAE, mas meus slides ficaram um fiasco. De qualquer modo, serviu de inspiração pro debate.
Foi com o "Arrugas" que o tal bichinho dos quadrinhos me mordeu. Descobri que existe todo um universo de novidades (pra mim, claro) em que posso me aventurar. Mas ainda tou bem no começo e vi pouquíssimas coisas. Tenho coletado sugestões, e aceito de bom grado todas as que venham. Eu queria não perder tempo com coisas ruins, mas no fundo sei que isso é bobagem. Assim como na literatura, a gente se arrisca o tempo todo e, sejamos honestos, a minoria é que é mesmo maravihosa.
Ah, e o meu amigo explicou que o que ele queria era que eu perdesse o preconceito que ele achava que eu tinha com quadrinhos. Não era bem preconceito, era mais aquela dificuldade de que falei ali em cima. Mas funcionou, de qualquer maneira!

"Língua de Sinas Brasileira - Estudos linguísticos", Ronice M. Quadros & Lodenir B. Karnopp.
"Libras e Língua Portuguesa (Semelhanças e Diferenças)", Denise Coutinho.
"Vendo vozes", Oliver Sacks. Esses três eu li pra escrever a monografia de conclusão do curso de pós-graduação bem tabajara que fiz entre 2009 e 2010. Os dois primeiros são bem técnicos. O primeiro é um estudo linguístico bem rico, talvez o mais completo que haja sobre a Libras até agora. Foi muito útil e com ele descobri o quanto ainda precisa ser estudado em Libras, o que talvez me renda um mestrado. Mas isso vai depender de eu vencer a preguiça de assumir esse compromisso. Assunto pruma outra hora. O segundo livro é bem fraquinho. Foi útil por alguma coisa de conteúdo, mas a forma é ruinzinha. Nos dois me chamou atenção o quanto o povo escreve mal, e o quanto a gramática é desprezada. Eu anda me espanto com isso, imagine.
O "Vendo Vozes", por sua vez, é uma delícia de ler. Eu já o conhecia há anos, mas nunca tinha lido todo. O problema são as zil notas de rodapé, que às vezes chegam a uma página inteira (se não for mais), mas a minha irmã, dona do livro, deu a dica de pulá-las sem dó nem piedade, e foi assim que a leitura rendeu. Gostei demais, e vale a pena ser lido até por quem não se interessa em trabalhar com surdez ou línguas de sinais. É bom pra saber sobre os surdos mesmo. Nossa ignorância tem que diminuir, especialmente quanto ao que chamamos minorias - ou diferenças apenas.
Uma das coisas boas do Oliver Sacks é isso: ele é médico, neurologista, mas escreve sobre seus pacientes de um jeito divertido, como um contador de histórias que às vezes insere informações técnicas. Então os livros são interessantes pra qualquer um, não precisa estar na área da saúde. Também recomendo fuçar os inúmeros livros que ele já publicou.

A respeito dessa bendita pós-graduação (que foi em língua portuguesa), embora o curso tenha sido bem fraco, a monografia me despertou um interesse em Libras que ainda não sei se vai render alguma coisa mais profunda, como um mestrado mesmo. Mas praticamente tudo o que escrevi sobre o tema foi novidade pra mim. Eu não sabia nem que Libras era uma língua de verdade, com estrutura linguística como qualquer língua oral. Pra alguém formado em fonoaudiologia, é triste constatar tamanha ignorância, não? Se bem que ter estudado numa escola médica (médica mesmo, principalmente na política!) nos anos 1990 explica bem isso. Mesmo assim é um choque descobrir que os ouvintes sabem tão pouco sobre os surdos. Lamentável.

"O ladrão de raios", Rick Riordan. Já disse que gostei muito do livro. Pra literatura infanto-juvenil, achei divertido e bem escrito. Ainda não li as sequências, e também estou interessada em outras obras do Rick Riodan, principalmente a série pra adultos. Mas esta eu já vi que ainda não foi traduzida pro português. Ê mercado editorial fraco que a gente tem por aqui, Santa Maria!

"Cabeza de Vaca", Paulo Markun. Também já falei sobre ele, e não curti. Foi a leitura mais demorada e arrastada do ano. A história é mesmo muito fera, mas o cara não teve a manha. Nem foi romance, nem documentário. Uma pena.

"A viagem do elefante", José Saramago. Comecei a ler dias antes de o Saramago morrer, imagine. Já estava com o livro na estante há mais de ano, e também já tinha um tempão que não lia nada dele. Gostei muito: é um Saramago leve e divertido, coisa meio fora do padrão, não? Vale a pena.

"Os homens que não amavam as mulheres", "A menina que brincava com fogo" e "A rainha do castelo de ar", Stieg Larsson. Esses ganharam post exclusivo, né? Adorei, claro. Uma pena que seja leitura pra se consumir tão rápido. Ao mesmo tempo em que não se consegue largar, também é triste quando acaba. Queria que o autor continuasse vivo e escrevesse uma série com Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist como investigadores, um mistério em cada novo livro. Era o que eu queria.

"Septimus Heap - Primeiro Livro - Magya" e "Septimus Heap - Segundo Livro - Voar", Angie Sage. De início gostei, mas depois não me interessei mais. No fundo é bem infantil e não é muito bem escrito, então não me empolguei o suficiente pra comprar as sequências. Se um dia me caírem nas mãos, ok, mas não quero gastar com eles não.

Taí. Um post gigante pra substituir todos os que deveriam ter sido escritos ao longo do ano. Antes tarde do que nunca.
Pra não ser estraga-prazer!

No começo, eu evitava falar das tramas dos filmes, livros e séries que comento aqui, mas isso limita muito e, com o tempo, dei mais liberdade às minhas postagens.
Porém, como eu não gosto que me contem as histórias, como eu adoro as surpresas que os criadores geralmente nos preparam com tanto esforço, não quero estragar o prazer de ninguém.
Se você é como eu, melhor ler ou ver antes. Mas convido-o a voltar depois, pra saber o que eu achei.