segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Futebol

Faz tempo que queria escrever um pouco sobre isso, mas hoje é o dia ideal.
Até porque tava aqui conversando com a minha irmãzinha no gtalk e vi que o que tava explicando a ela era o que eu queria dizer.
O fato é que ela estranhou que eu estivesse muito feliz hoje pelo campeonato conquistado ontem pelo Fluminense: "uai, e desde quando cê gosta tanto assim de futebol?" foram as palavras dela.
Pois é, o fato é que eu gosto pra caramba de futebol há um tempão.
Lembro que depois da Copa de 98 eu disse pra mim mesma que não ia saber de futebol só nas Copas do Mundo, que ia assistir aos jogos, acompanhar as notícias, conhecer jogadores e times, enfim... Não ser uma típica torcedora só da Seleção.
Confesso que não consegui muito cumprir o meu propósito. Até que eu tentei: no ano de 1999 morei em Penápolis, uma cidade do interior de São Paulo logo depois do fim do mundo. Pelo menos do ponto de vista social e cultural. Lá parece que não acontece nada, ninguém avança... um lugar triste com pessoas quase paradas. Foi muito difícil fazer amigos. Tive alguns, companhias legais, mas vínculos profundos mesmo não houve, tanto é que já faz mais de 10 anos que mudei de lá e nunca mais falei com ninguém, a menos que se contem esparsos contatos via orkut, assim mesmo há uns 4 anos.

Enfim... eu morava sozinha com minha filha mais velha, na época a única, ainda pequena, e assistia aos jogos com bastante frequência. Sabia o nome de vários jogadores, desenvolvia simpatia ou antipatia por alguns times, mas nada disso foi pra frente. Nem consolidei esses conhecimentos, nem criei amor por qualquer time. O interesse ainda estava lá, mas eu continuei desinformada de futebol.

Em 2000, porém, já em Brasília, eu comecei a namorar, depois casei, e daí que meu marido é um cara que gosta mesmo de futebol. Não é desses fanáticos, que brigam por causa de time, que deixam de viver por um jogo e tal. Mas gosta de verdade. Tanto é que assiste a jogos de vários times, e não só do "seu". Conhece jogadores, sabe onde eles atuavam, pra que time foram, às vezes com uma riqueza de detalhes que impressiona.
Aí você vai convivendo, ouvindo, conhecendo.
Por solidariedade, eu torcia para o Fluminense se dar bem. Achava legal que ele torcesse pra esse time por causa de seu avô, que tinha nadado no e pelo clube. É daqueles casos de torcedores que têm um vínculo com o clube, um negócio que veio passando pelas gerações. Na família dele, é bacana que os 5 irmãos e (quase) todos os netos são tricolores. A única exceção é justamente meu enteado, que eu costumo dizer que é a ovelha rubro-negra da família. Fazer o quê? Ele puxou o fanatismo do tio, com quem convivia mais tempo quando criança. Particularmente, acho uma pena, mas em defesa dele pelo menos sei que é um flamenguista atípico, porque gosta mesmo de futebol, acompanha até os campeonatos europeus, conhece jogadores do mundo todo, uma doideira.

Comigo, o que houve foi crescer esse gosto pelo esporte. Acho inteligente (ao contrário do que pensa muita gente que não vê futebol), tem toda uma estratégia na montagem do time, na escalação. Tem toda uma arte nas jogadas dos craques. Eu ainda não entendo quase nada. Talvez tenha que nascer homem pra entender como eles entendem. Pra ver e dizer: "Aqui, passa aqui! Pô, o cara tava livre na direita!" Essa visão eu ainda não tenho, e talvez não venha a ter.
Mas pelo menos hoje em dia eu já conheço jogadores, sei quem jogou, em que posição (mais ou menos, claro) estão os times. Acompanho as notícias, vejo os jogos. Cheguei a um grau de entendimento (se não dos esquemas táticos, pelo menos das notícias) perto do que eu queria ter tido lá atrás, depois da Copa de 98.

Apesar disso, até pouco mais de um ano atrás, eu ainda não torcia por nenhum time.
Achava que isso não ia acontecer, porque tem uma irracionalidade ou um sentimento de identificação aí que geralmente surge na infância, por causa do pai na maioria das vezes, mas até de outras pessoas da família. Meu pai é atleticano (de Minas) e até via muito futebol, curtia, mas não sei por que, se ele não tem tanto amor, se naquela época não se importava muito em se fazer das meninas torcedoras, o fato é que não desenvolvemos esse vínculo com o Galo nem com o futebol em si.

Em 2007, eu cheguei até a ver o jogo Fluminense x Brasiliense, pela Copa do Brasil, em Taguatinga. Era um sonho ver um jogo ao vivo, e, apesar de o estádio ser pequeno e não ter a mesma emooção que num grande, gostei demais de ter ido. Mas lembro, por exemplo, que não quis vestir camisa do Flu. Não era torcedora. Eu torcia por ele, mas não era torcedora. Era só solidariedade. Pra ver meu marido e minha filha (que já tinha sido conquistada pelo padrasto) felizes.

Em novembro do ano passado, porém, numa viagem ao Rio, conseguimos assistir a um jogo do Flu no Maracanã. O plano era conhcer o maior estádio do mundo num jogo com pouca gente, sem muvuca, já que o Fluminense estava na lanterna, com mais de 90% de chance de ser rebaixado, segundo os matemáticos. Mas entre o plano e o dia do jogo, o Flu tinha vencido dois times lá da ponta da tabela, os dois mineiros Atlético e Cruzeiro. O clube convocou a torcida pra ir ao Maraca, pôs ingressos à venda pela metade do preço, o estádio encheu.
Eu usei uma camisa do marido. Imensa, mas quente pra burro, com aquele tecido sintético das camisas oficiais. Mas nesse dia não achei graça ir de roupa normal.

Já no metrô comecei a curtir aquele vagão enchendo de camisas tricolores, muitos jovens bem assim da idade da minha filha, uns 17, 18 anos, muitas meninas - uma com esmalte grená do tom exato da camisa tricolor -, todo mundo cantando, uma ecucação, uma tranquilidade, alegria pura.

No estádio, não ficamos nas arquibancadas. Amarelamos, porque queríamos levar a máquina pra tirar fotos. Nas cadeiras era mais vazio, certamente do outro lado tava bem mais emocionante. Mas tinha horas em que eu nem via o jogo, porque ficava ali namorando a torcida, que cantava, entoava os gritos, os hinos, fazia os gestos todos seus.
Me apaixonei. Primeiro pela torcida. Esta que recebeu o time no aeroporto depois de uma derrota por 5 a 1 no Equador. Primeiro quis foi fazer parte desse grupo, porque sempre tinha achado esquisito torcer por um time, considerando o quão volátil ele é, como equipe. Mas não tinha entendido que quem torce torce pelo clube. Pelo que ele representa, pelos que já passaram por ali, pela história que se constrói em torno daquele espaço e daqueles lutadores, daqueles pequenos guerreiros.

Hoje sou torcedora. Com convicção.

É por isso que sofri no último jogo do campeonato de 2009, em que o Fluminense só escapou do rebaixamento no apito final contra o Coritiba. E comemorei como vitória a coroação daquela arrancada - cujo começo eu tinha visto sem entender muito - contra uma condenação que já tinha sido decretada há meses.
E também por isso acompanhei cada vez mais feliz e menos incrédula as vitórias e a pernanência do Flu na ponta da tabela do campeonato deste ano. Sempre com cautela, sabendo que só estaria decidido no fim, que seria muito difícil, que era muito longo. Que os caras se machucam, o time fica com buracos difíceis de tampar. Que tem juízes que erram feio mesmo, que algumas vezes isso ajuda o time, mas que em muitas prejudicou pra burro.
Foi por isso que fiquei feliz como poucas vezes depois do jogo de ontem, ao ver aqueles mesmos meninos que choravam pela salvação do ano passado chorarem agora de felicidade extasiada, porque desta vez foi vitória mesmo, foi grito de campeão. Com um gostinho a mais pela trajetória que começou em outubro de 2009.

E é por isso que vesti uma das minhas 4 camisas do Fluminense toda vez que o time perdeu, assim como vesti hoje. Porque não quero torcer por um time só quando ele vence. Porque não quero ser parte de uma torcida só porque ela é a maior do estado, do país ou do mundo. Na minha vida toda, eu quase nunca (ou talvez nunca mesmo) gostei do que todo mundo gostava. A unanimidade nao me interessa. A quantidade de torcedores não faz mesmo diferença. O que importa é a qualidade com que eles torcem.

Hoje, embora recente, eu posso dizer que sou mesmo tricolor de coração!

2 comentários:

Daniela disse...

Eu também não entendo nada de estratégia de jogo, de posicionamento no campo, nada disso. Mas adoro o "quem subiu, quem desceu, quem foi pra que time", a coluna social do futebol. E apesar de achar legal quem torce por um time acompanhando a família, eu gosto mais de ter escolhido meu time depois de crescida (mais ou menos, eu tinha 16).
De um jeito ou de outro, o que importa é a paixão, né? Bom demais ter paixão por alguma coisa!
Beijos

Tatiana disse...

Então, eu tou adorando essa história de ver os jogos e curtir mesmo. Assitir sem torcer não tem a mesma emoção. E é legal sentir essa emoção todo ano, várias vezes por ano, e não só de 4 em 4, né? A melhor parte de virar torcedora é esticar a curtição que antes eu só tinha nas Copas do Mundo!

Pra não ser estraga-prazer!

No começo, eu evitava falar das tramas dos filmes, livros e séries que comento aqui, mas isso limita muito e, com o tempo, dei mais liberdade às minhas postagens.
Porém, como eu não gosto que me contem as histórias, como eu adoro as surpresas que os criadores geralmente nos preparam com tanto esforço, não quero estragar o prazer de ninguém.
Se você é como eu, melhor ler ou ver antes. Mas convido-o a voltar depois, pra saber o que eu achei.