sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Coisas preferidas

Pacotes de papel pardo amarrados com fita (ou barbante).

Cadernos escritos à mão. E cartas e bilhetes. E cartões.

A pipoca feita pelo Rafael assim que ela sai do fogo.

O cheiro do café "passando", mais que o sabor.

Lãs numa agulha de tricô.

OS MEUS TRÊS PARTOS.

O caruru da mamãe.

A emoção ao ler uma história bem contada (como aquela que senti pelo "Arrugas" ou pelo "A menina que roubava livros").

"Nunca te vi, sempre te amei", o filme.

"Simplesmente amor", outro filme.

"Favorite Things", a música, com Pomplamoose (pelo menos por enquanto).

Ouvir uma música querida ou emocionante no fone de ouvido, no escuro, até doer. A alma, não os ouvidos.

"Inverno", a música da Adriana Calcanhoto.

"Lili", do jeito que me lembro dele, num cinema, quando criança que ainda nem lia, com a ajuda do meu pai nas legendas e a memória do gosto que minha mãe tinha pelo filme, e com a impressão de que os bonecos tinham mesmo vida.

Essas são algumas das minhas coisas favoritas. Ainda não sei se simplesmente lembrá-las vai me ajudar a não me sentir tão mal num momento de tristeza profunda, mas há muito tempo queria muito listá-las.

Leituras de 2010.

Como fiz no ano passado, vou transcrever em forma de post a lista "Leituras em 2010". Este ano, talvez pra aumentar minha contabilização, incluí os três (livros? revistas? como chamo isso?) exemplares (irgh) de quadrinhos que li no ano passado. Que ficará marcado como o ano em que fui mordida pelo bichinho dos quadrinhos. Mas ainda não conheço quase nada, sou beeeeem iniciante mesmo. Estou cercada de vários amantes de quadrinhos, que já me deram algumas indicações, mas é difícil começar. Vou aos poucos.
Aí vão pequenas impressões sobre cada uma dessas coisas que li, já que de quase nenhuma falei em especial. Pra se ver o quanto o propósito deste quase largado blog está perdido... A ordem é a cronológica de traz pra frente (existe uma palavra pra isso?), os que li mais recentemente aparecem primeiro.

"A menina que roubava livros", Markus Zusak. Adorei! Sério, é um dos melhores livros que já li. Chorei litros, desesperadamente, quando terminei. Não de tristeza. Não foi isso. Claro que é triste, não poderia deixar de ser. Mas não foi de tristeza que chorei. Foi de emoção. Ele é muito comovente. Muito mesmo. E essa é uma das coisas de que mais gosto em um livro.

"A sombra do vento", Carlos Ruiz Zafón. Tou doida por outros dele, porque adorei. Como já disse aqui.

"Pequenos Milagres", Will Eisner. Reflexo das minhas primeiras incursões em quadrinhos. Os entendidos do assunto me indicaram o papa Will Eisner. Foi a minha primeira compra de quadrinhos. As outras coisas que tinha lido tinham sido emprestadas. Gostei demais. As histórias são muito leves e comoventes. Algo que me atrai também aqui.

"O Africano", J.M.G. Le Clézio. Gostei das impressões sobre a África, mas não gostei muito do estilo. Já comentei aqui que talvez seja até culpa tradução, ou pelo menos era o que eu gostaria, já que o cara ganhou o Nobel de literatura. Ainda tenho outro Le Clézio pra ler, e aí vou poder dizer melhor sobre esse jeito dele de escrever. Um dia.

"1984", George Orwell. Uma falha que me incomodava: nunca ter lido esses clássicos da ficção. Ainda falta o "Admirável Mundo Novo", tá na fila. Já falei sobre o "1984", mas o gozado dele é que é uma leitura que fica em você. Meses depois você se pega pensando nas coisas que ele representa, no que aparentemente é maluquice mas na verdade está presente em muito do que vemos no nosso tempo, na vida real. Um alerta, sim, mas parece que quase ninguém lhe dá atenção. E não dá pra deixar passar o absurdo que a Globo (não sei se os canais de tv de outros países também, ou se vem do criador do maledito programa) fez com o Big Brother, que foi TOTALMENTE subvertido. Os fófis globais chamam de big brother os caras que participam do programa, ou seja, os que são vigiados. Primeiro absurdo. Mas outra coisa curiosa é que o Grande Irmão original proibia terminantemente qualquer atividade sexual, exceto para fins de reprodução, em que ainda assim era vedado sentir - e demonstrar, claro, o que seria captado pelas teletelas e pelo Grande Irmão - prazer em qualquer nível. E, pelo que escuto dizer, uma das coisas que mais se mostram no programa big brother é a trepação a torto e a direito. A ignorância é sempre triste, mas quando vem dos que têm acesso à informação e não a querem, é mais ainda.

"Persépolis", Marjani Satrapi. Minha segunda aventura em quadrinhos. Adorei! Gostei de tudo. O traço é bem simples, os desenhos são todos em preto e branco, mas são muito significativos. Eu não manjo de desenho. Sou uma completa nulidade nesse campo e não sei fazer nenhuma avaliação técnica. Mas curti muito. Talvez até porque uma das minhas grandes dificuldades com quadrinhos sempre tenha sido a enormidade de estímulos. Meu cérebro não processa tão bem a mistura de imagem e texto. Sério. Parece besteira, mas é verdade. E no Persépolis eu curti tudo. Além do mais, a história é pra lá de interessante, porque, pô, a gente é muito ignorante da vida dos outros países planeta afora. Tá doido, como a gente não sabe nada! E a Marjani Satrapi ajuda a diminuir um pouco nossa ignorância com relação ao Irã. Além do mais, ela tem a mesma idade que eu. Eu ouvia notícias sobre a revolução no Irã, eu lembro de ouvi-las no Jornal Nacional ou ler no Jornal do Brasil do meu pai. Foi especialmente rico pra mim ler sobre alguém que foi criança na mesma época que eu. Mas, apesar da guerra e da sofrida restrição à liberdade vividas pela autora, que também fornecem momentos comoventes, de modo geral a leitura é divertidíssima. Recomendadíssismo!

"Arrugas", Paco Roca. Taí. A minha história com o "Arrugas" é curiosa. Meu amigo um dia chegou e disse: trouxe pra você ler. Confesso que estranhei um pouco. Por que ele estava fazendo aquilo? Era um fim de semana. Prometi tentar devolver até o próximo dia de trabalho. Foi a primeira vez na vida que li alguma coisa de quadrinhos "pra adulto". Eu não sabia que havia histórias contadas assim. É sério. Eu era totalmente ignorante quanto a esse segmento. Fiquei tomada. Gostei de tudo: da história, das ilustrações, do traço bem particular. Dos personagens. Do sentido final que me ficou: ninguém quer ser só. Tomo mundo quer amar, nem que seja um grande amigo já feito na velhice. E sobretudo adorei os flashbacks. Nunca tinha pensado em encontrar flashbacks em quadrinhos, veja só.
Meu "amor" pela história em si é quase um capítulo à parte. Fiquei tomada de uma emoção intensa, um desejo profundo de cuidar dos "meus" velhinhos, de não abandoná-los jamais. Passei alguns dias com vontade de chorar toda vez que pensava na história, e chorei mesmo, pra burro, num desses dias. Cresceu também minha preocupação em envelhecer bem. Claro que a reflexão sobre o envelhecer já vinha comigo há algum tempo, provavelmente desde que completei 40, mas com o "Arrugas" muitos sentimentos vieram mais à tona. Quis até apresentá-lo numa reunião de pais da SEAE, mas meus slides ficaram um fiasco. De qualquer modo, serviu de inspiração pro debate.
Foi com o "Arrugas" que o tal bichinho dos quadrinhos me mordeu. Descobri que existe todo um universo de novidades (pra mim, claro) em que posso me aventurar. Mas ainda tou bem no começo e vi pouquíssimas coisas. Tenho coletado sugestões, e aceito de bom grado todas as que venham. Eu queria não perder tempo com coisas ruins, mas no fundo sei que isso é bobagem. Assim como na literatura, a gente se arrisca o tempo todo e, sejamos honestos, a minoria é que é mesmo maravihosa.
Ah, e o meu amigo explicou que o que ele queria era que eu perdesse o preconceito que ele achava que eu tinha com quadrinhos. Não era bem preconceito, era mais aquela dificuldade de que falei ali em cima. Mas funcionou, de qualquer maneira!

"Língua de Sinas Brasileira - Estudos linguísticos", Ronice M. Quadros & Lodenir B. Karnopp.
"Libras e Língua Portuguesa (Semelhanças e Diferenças)", Denise Coutinho.
"Vendo vozes", Oliver Sacks. Esses três eu li pra escrever a monografia de conclusão do curso de pós-graduação bem tabajara que fiz entre 2009 e 2010. Os dois primeiros são bem técnicos. O primeiro é um estudo linguístico bem rico, talvez o mais completo que haja sobre a Libras até agora. Foi muito útil e com ele descobri o quanto ainda precisa ser estudado em Libras, o que talvez me renda um mestrado. Mas isso vai depender de eu vencer a preguiça de assumir esse compromisso. Assunto pruma outra hora. O segundo livro é bem fraquinho. Foi útil por alguma coisa de conteúdo, mas a forma é ruinzinha. Nos dois me chamou atenção o quanto o povo escreve mal, e o quanto a gramática é desprezada. Eu anda me espanto com isso, imagine.
O "Vendo Vozes", por sua vez, é uma delícia de ler. Eu já o conhecia há anos, mas nunca tinha lido todo. O problema são as zil notas de rodapé, que às vezes chegam a uma página inteira (se não for mais), mas a minha irmã, dona do livro, deu a dica de pulá-las sem dó nem piedade, e foi assim que a leitura rendeu. Gostei demais, e vale a pena ser lido até por quem não se interessa em trabalhar com surdez ou línguas de sinais. É bom pra saber sobre os surdos mesmo. Nossa ignorância tem que diminuir, especialmente quanto ao que chamamos minorias - ou diferenças apenas.
Uma das coisas boas do Oliver Sacks é isso: ele é médico, neurologista, mas escreve sobre seus pacientes de um jeito divertido, como um contador de histórias que às vezes insere informações técnicas. Então os livros são interessantes pra qualquer um, não precisa estar na área da saúde. Também recomendo fuçar os inúmeros livros que ele já publicou.

A respeito dessa bendita pós-graduação (que foi em língua portuguesa), embora o curso tenha sido bem fraco, a monografia me despertou um interesse em Libras que ainda não sei se vai render alguma coisa mais profunda, como um mestrado mesmo. Mas praticamente tudo o que escrevi sobre o tema foi novidade pra mim. Eu não sabia nem que Libras era uma língua de verdade, com estrutura linguística como qualquer língua oral. Pra alguém formado em fonoaudiologia, é triste constatar tamanha ignorância, não? Se bem que ter estudado numa escola médica (médica mesmo, principalmente na política!) nos anos 1990 explica bem isso. Mesmo assim é um choque descobrir que os ouvintes sabem tão pouco sobre os surdos. Lamentável.

"O ladrão de raios", Rick Riordan. Já disse que gostei muito do livro. Pra literatura infanto-juvenil, achei divertido e bem escrito. Ainda não li as sequências, e também estou interessada em outras obras do Rick Riodan, principalmente a série pra adultos. Mas esta eu já vi que ainda não foi traduzida pro português. Ê mercado editorial fraco que a gente tem por aqui, Santa Maria!

"Cabeza de Vaca", Paulo Markun. Também já falei sobre ele, e não curti. Foi a leitura mais demorada e arrastada do ano. A história é mesmo muito fera, mas o cara não teve a manha. Nem foi romance, nem documentário. Uma pena.

"A viagem do elefante", José Saramago. Comecei a ler dias antes de o Saramago morrer, imagine. Já estava com o livro na estante há mais de ano, e também já tinha um tempão que não lia nada dele. Gostei muito: é um Saramago leve e divertido, coisa meio fora do padrão, não? Vale a pena.

"Os homens que não amavam as mulheres", "A menina que brincava com fogo" e "A rainha do castelo de ar", Stieg Larsson. Esses ganharam post exclusivo, né? Adorei, claro. Uma pena que seja leitura pra se consumir tão rápido. Ao mesmo tempo em que não se consegue largar, também é triste quando acaba. Queria que o autor continuasse vivo e escrevesse uma série com Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist como investigadores, um mistério em cada novo livro. Era o que eu queria.

"Septimus Heap - Primeiro Livro - Magya" e "Septimus Heap - Segundo Livro - Voar", Angie Sage. De início gostei, mas depois não me interessei mais. No fundo é bem infantil e não é muito bem escrito, então não me empolguei o suficiente pra comprar as sequências. Se um dia me caírem nas mãos, ok, mas não quero gastar com eles não.

Taí. Um post gigante pra substituir todos os que deveriam ter sido escritos ao longo do ano. Antes tarde do que nunca.
Pra não ser estraga-prazer!

No começo, eu evitava falar das tramas dos filmes, livros e séries que comento aqui, mas isso limita muito e, com o tempo, dei mais liberdade às minhas postagens.
Porém, como eu não gosto que me contem as histórias, como eu adoro as surpresas que os criadores geralmente nos preparam com tanto esforço, não quero estragar o prazer de ninguém.
Se você é como eu, melhor ler ou ver antes. Mas convido-o a voltar depois, pra saber o que eu achei.