domingo, 17 de outubro de 2010

Percy Jackson em filme?

O nome é o mesmo. Do filme e do personagem. Alguns personagens são os mesmos, pelo menos em nome e filiação. Mas, à parte a eterna discussão sobre livros adaptados pro cinema, esse filme Percy Jackson e o ladrão de raios não tem praticamente nada a ver com o livro. Que que foi isso?
Ok, cada vez mais eu tento aceitar que literatura e cinema são bem diferentes mesmo e que não se deve esperar adaptação literal. Que, aliás, também é frustrante, nas poucas vezes em que acontece.
Mas o que impressiona nesse Percy Jackson não é só terem mudado os fatos. Quase todos eles.
Impressiona é terem imbecilizado tanto a história.
Eu não manjo muito de mitologia grega. Sei só o que todo mundo sabe, e malemal. Quando li "O ladrão de raios", curti tanto que até comprei a coleção Mitologia Grega, de Junito de Souza Brandão, por indicação de dois amigos meus cultíssimos, desses da geração dos anos 80 que conseguem saber muito sobre muitas coisas, bem diferente de mim, que sei pouco de algumas poucas coisas. Quis aprender mais sobre um troço que toda hora você vê como referência em todo lugar, ainda que de passagem.
Mas sei o suficiente pra ficar indignada com a superficialidade desse filme Percy Jackson. Fizeram uma história rasa, romantizada onde deu, com vilões bobos que agem por motivos mais bobos ainda. Por exemplo, por que Hades ia aparecer em pleno acampamento de meios-sangues pra pedir pro Percy Jackson levar-lhe o raio roubado de Zeus? Quem devia exigir isso era o próprio Zeus, não? Se Hades queria o raio, seria o mesmo que roubá-lo, então por que abriria o jogo com uma galera de semideuses?
O livro já é pra um público juvenil. A história não é assim tão complexa, mas tem algumas intrigas com um mínimo de coerência. Que foi que pensaram? Que os consumidores de cinema não tinham capacidade de entender nem isso? Então pra que falar de mitologia?

Pra começar tem o ator, com cara de Troy Bolton e Justin Bieber, ou seja, cara de menina. Eu disse, não manjo muito, mas não era de se esperar que o filho de um deus grego fosse pelo menos um pouco mais másculo?
Depois vem o amigo sátiro, que ficou igual a todos os amigos negros de heróis de filmes americanos, com um linguajar de malandragem típico de todos os personagens do Eddie Murphy ou do Chris Rock. Que preguiça!
Não tiveram coragem de mostrar a indiferença dos deuses com os mortais, mesmo os seus filhos. Poseidon só não ficou com o filho por determinação de Zeus, senão ia virar mortal e viver sua vidinha simples de emprego e contas pra pagar, tudo por amor a Percy e sua mãe. Ah, tem dó!
Sério, que que foi isso?
O livro é bem bacana, linguagem divertida, leitura rápida, presente maneiríssimo pra filhos, sobrinhos e amigos adolescentes, ou pré.
Mas o filme não vale as duas horas na frente da tevê.
É ridículo!

domingo, 10 de outubro de 2010

Frente da minha casa no dia 5 de outubro, quando eu ainda tinha esperança de que a limpeza pública chegaria à minha rua.





Passei os últimos 40, 50 minutos, não sei bem, recolhendo lixo de frente da minha casa. Santinhos, panfletos, cartazes de políticos os mais diversos. Também havia copos descartáveis, papéis de bala, guimbas de cigarro, palitos de picolé... Mas o lixo da propaganda política era mais volumoso, e tornou-se interessante porque definiu uma referência no tempo. Hoje é dia 10 de outubro. Isso quer dizer que faz pelo menos uma semana que minha rua não recebe o serviço público de limpeza. Faz uma semana que minha garagem tem de ser varrida várias vezes durante o dia pra tirarmos o lixo de propaganda política que se acumula trazido pelo vento.
Cinquenta minutos, 1 hora ou 1 hora e meia, que fosse, não foi tanto tempo assim. O sol tá de lascar, o calor absurdo, fiquei cansada e tive umas tonturas de tanto abaixar pra recolher o lixo e levantar pra jogar no cesto, mas afinal não é nada tão trabalhoso assim. Eu fiz sozinha. Se tivesse tido ajuda de mais umas duas pessoas, já teria sido bem mais rápido e fácil.
Ou seja, se tivesse havido um mutirão desde domingo passado pra retirar da rua o lixo (físico, real e não apenas metafórico) oriundo dos políticos do Distrito Federal, bem mais cedo a gente veria a nossa cidade limpa.
Eu tive essa vontade: de organizar um mutirão pra limparmos as ruas. Mas não tive tempo. Só hoje tive tempo de parar pra varrer a frente da minha casa.
Mas o que eu queria era que pelo menos algum dos candidatos a cargos políticos no DF tivesse tido essa ideia. E tivesse convencido os outros a fazer o mutirão de limpeza. Afinal, se eles conseguem arregimentar aquele exército de pessoas que emporcalham a cidade daquela maneira em umas poucas horas, por que não conseguiriam a quantidade suficiente de pessoas pra limpá-la?
Se algum candidato tivesse tido essa ideia - e a colocasse em prática, claro - e, mais, tivesse ido às ruas participar da limpeza, eu respeitaria esse cara. Talvez até fizesse campanha pra ele. Sem receber por isso, claro.
Mas hoje, enquanto varria a frente da minha casa, olhava pro rosto sorridente de cada um daqueles candidatos em seus santinhos e sentia não raiva, mas uma tristeza profunda e um profundo desânimo.
Vi vários deles: Agnelo Queiroz, Magela, Georgios, Alírio Neto, Prof. Israel, Rejane Pitanga, Celina Leão, Apolinário Rebelo, Joãosinho Trinta, Rôney Nêmer, Eliana Pedrosa, Adelmir Santana, Cristiano Araújo, Raimundo Ribeiro, Erika Kokay, Maninha, Toninho do PSOL, Valdelino Barcellos, Girotto, Roberto Lucena, Messias, Augusto Carvalho, Izalci, José Serra, Ezequiel, Joaquim Roriz (embora santinhos com seu rosto tivessemsido proibidos pela Justiça Eleitoral)... Citei assim de cabeça os nomes que vi enquanto jogava o lixo no cesto.
De todos os candidatos em que eu votei, apenas uma foi eleita, pra deputada federal. E até ela aparecia nos santinhos que emporcalharam a minha rua por uma semana.

Esse desânimo todo me fez entender a tese de voto nulo do meu marido.
Se qualquer um desses candidatos tivesse uma preocupação real com Brasília e sua população, teria promovido um mutirão de limpeza por simples dever de consciência. Para não submeter a população do DF, seja eleitora sua ou não, à sujeira de uma semana, ainda mais com seu nome estampado. Isso seria simples e não requereria recursos públicos ou aprovação da maioria. Exigiria apenas vontade.

Mas também penso muito nos outros tipos de lixo jogados na rua. Diariamente minha garagem e meu jardim são invadidos por papel de bala, copo, embalagem de todo tipo, lixo jogado na rua com a maior naturalidade.
De uma população que não faz o mínimo, que é jogar lixo no lixo, não se pode mesmo esperar que vote conscientemente, com foco no coletivo e não no interesse pessoal.
E de governos que se sucedem mandatos após mandatos sem sequer pensar em implantar um programa de educação cidadã, leis que punam, instalação de mais coletores de lixo, enfim, toda uma política que faça o brasileiro parar de achar que jogar lixo é normal não se pode esperar que promovam mudanças profundas no país.

Gozado que a gente tem copiado tanta coisa dos Estados Unidos, mas não copia uma coisa boa, que é não jogar lixo na rua, não é? Copia a crença de que ter acesso a crédito pra consumir desenfreadamente é riqueza, de que mais vale ser competitivo pra ter carro novo e apartamentos chiques eternamente financiados do que ser solidário e distribuir um pouco do que se tem, mesmo que seja conhecimento e não coisas, mas não aprende a jogar lixo no lixo.

Se o segundo turno fosse hoje, eu certamente votaria nulo pra governador e pra presidente, tamanha a tristeza e tamanho o desânimo que sinto de ter visto minha rua física e não apenas moralmente emporcalhada pela política do DF, pela ausência de serviço público de limpeza que funcione e pela falta de educação do nosso povo que ainda acha que a rua não é dele e por isso pode ser lata de lixo de todos.

Eu votaria nulo não necessariamente por protesto, mas por pura descrença.
Pra não ser estraga-prazer!

No começo, eu evitava falar das tramas dos filmes, livros e séries que comento aqui, mas isso limita muito e, com o tempo, dei mais liberdade às minhas postagens.
Porém, como eu não gosto que me contem as histórias, como eu adoro as surpresas que os criadores geralmente nos preparam com tanto esforço, não quero estragar o prazer de ninguém.
Se você é como eu, melhor ler ou ver antes. Mas convido-o a voltar depois, pra saber o que eu achei.