sábado, 29 de setembro de 2007

As aventuras com Umberto Eco

No começo da semana, comecei A Misteriosa Chama da Rainha Loana, do Umberto Eco.
Uma vez me disseram que numa crônica do Luis Fernando Veríssimo ele diz que o Umberto Eco é o "cara que sabe tudo sobre tudo". Ainda vou checar e confirmo essa informação depois, mas é uma descrição maneira, né?
Aliás, eu antes relutava em ler o cara porque me sentia burra demais pra isso. Talvez nem burra, mas desinformada. Tinha lido O Nome da Rosa nos idos da juventude, antes de ir ver o filme no cinema, que sempre gostei de ler os livros que me interessavam antes de vê-los na tela.
Claro que adorei, e já li mais uma ou duas vezes, mas sempre tem coisa que não guardo direito na memória, principalmente os detalhes sobre hábitos católicos, que não fizeram parte da minha criação, então acho que não ficaram gravados. De qualquer modo, por mais que o filme tenha ficado muito bom, ainda acho que vale ler o orginal, por detalhes maneiríssimos sobre os mistérios da biblioteca que não puderam ir pro cinema.


O Pêndulo de Foucault
ficou na minha casa durante anos e não o levava adiante, parece que me intimidava. Aí meu marido, que é beeeem mais culto e informado que eu, disse que pra curti-lo a gente tinha de relaxar e aceitar que não vai conhecer nem um décimo mesmo do que ele cita. Encarar como aula, sabe? Pois segui a dica e adorei o livro. Entrou de imediato pra minha lista de preferidos. Embora eu tenha me sentido ainda mais burrinha!
Mas é sensacional como ele constrói toda uma trama complicadíssima pra mostrar as infinitas criações humanas sobre a ligação tida como certa entre os fatos mais diversos, mostrar a necessidade humana de encontrar explicação onde não há, ou onde não a alcançamos, pra depois desmistificar tudo, tudo mesmo o que já se inventou nesse gênero. E nessa história também, como em outras, é uma mulher que mantém a razão, quando todos deliram.


O Baudolino também tou adiando pela mesma razão: acho que não conheço o suficiente de História pra compreender o livro. Meu bem diz que é besteira, acha mesmo o melhor romance do cara, por isso não posso perder. Tá na minha lista.


Mas da Rainha Loana tou gostando. Apesar de me terem dito que nem de longe é o melhor romance de Umberto Eco, a história (minha) se repete. O personagem central é livreiro de peças antigas e raras. Perdeu a memória de qualquer coisa pessoal mas sabe de cor zilhões de passagens de obras em várias línguas. Dava pra gente se sentir menos culta??!! Mas tou curiosa pra saber onde vai dar a viagem pessoal dele em busca do eu perdido. Depois digo o que encontrei com o Yambo.

domingo, 23 de setembro de 2007

Questão de fé

Eu sou uma pessoa de fé. Sério! Não só acredito em Deus mas tenho convicção de que ele é justo, bom, e que tudo na sua criação tem um propósito. Consigo encontrar explicação pra catástrofes e dores profundas que passamos, razões pra (tentar) aliviar meus (muitos) medos. Mas, sinceramente, não consigo entender a existência da barata!
Quando vi Deus é brasileiro pela primeira vez, no cinema, adorei. Achei divertido, o Wagner Moura ainda era estreante e não vilão da novela das oito, e ele 'tava engraçadíssimo! Da segunda vez, na tevê, já achei que aquele Deus não tinha nada a ver: presunçoso, orgulhoso de seus feitos, meio egoísta e até com um interessezinho físico pela garota. Tudo isso aí é com a gente, ser humano. Deus 'tá muito além dessas nossas coisinhas. Na verdade eu nunca gostei muito do que já pude ver do João Ubaldo. Li A casa dos budas ditosos e detestei. Não vi nada da noção de pecado que regia a série da Editora Objetiva, era só bandalheira sem a culpa e desejo de redenção que acredito que o pecado gere (não entendo muito disso porque nunca fui à igreja, onde imagino que expliquem esses conceitos).
Enfim, mas com uma coisa naquele filme, que nem sei se 'tá na história original do João Ubaldo, eu me identifiquei: a cena em que Deus e o Taoca estão viajando de ônibus, aparece uma barata e Deus pega o caderninho em que anota umas modificações que poderia fazer.
Eu, que me mantenho uma pessoa de fé e convicção na justiça divina, em vez de questionar, que é o que me dá vontade de fazer, procuro reafirmar pra mim mesma que, se tudo na natureza tem um propósito, a barata há de ter o seu, e eu é que sou ainda muito iniciante pra compreender. Mas por causa mesmo dessa incipiência, posso gritar toda vez que as malditas invadem aqui a minha sala, perto do meu computador (a despeito da dedetização recente): ODEIO BARATA!

Insônia produtiva

Perdi o sono depois que o meu marido teve de sair da cama e de casa às 3 da matina pra buscar minha filha graúda numa festa, por conta de uma tremenda confusão que ela fez com a suposta carona que a traria de volta. Na boa, isso não é hora de menino estar na rua, sem comentários!


Acabei vindo aqui passear pelos blogs que minhas amigas ou as amigas delas lêem. De casa em casa, cheguei (muito feliz!) ao diário de Fernando Meirelles sobre as filmagens do Ensaio sobre a cegueira. Há uns dias tinha sabido que ele ia filmar meu livro preferido e até pensei: agora vou TER mesmo de reler, não tem jeito!
Passar um grande livro pro cinema pode sempre ser uma armadilha, né? Mas fiquei tranqüila quando soube quem ia dirigir. Nesse cara eu confio, porque Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel me deixaram sem fôlego e sem palavras por um bom tempo, se bem que cheia de emoções, nenhuma muito positiva, diga-se.
Daí que encontrar esse Diário foi uma alegria e tanto, e é ele que inaugura minha lista de links.
Porque tenho de ser sincera, digo que não sei se acompanhar esses detalhes não vai estragar um pouco minhas sensações com o filme. Se eu achar que sim, vou interromper a leitura e retomá-la depois de ver o trabalho pronto. Vamos ver o que rola.
Gozado é que mais uma vez este Fernando vai fazer um filme que certamente me fará sofrer. Deve ser bom, né, produzir trabalhos assim, que abalam tanto as pessoas. Claro que não gosto de ficar triste, mas adoro quando a arte me destrói! Caras iluminados, esses.

sábado, 22 de setembro de 2007

"O caçador de pipas"

Nessa semana que passou li O caçador de pipas, de Khaled Hosseini, o tão comentado romance sobre a amizade meio tortuosa de dois meninos afegãos.
Eu queria fugir dos clichês e não falar de como é bom conhecer o dia-a-dia do Afeganistão antes e depois de invadido tantas vezes por tantos grupos. Claro que isso é muito legal no livro, mas afinal é o que ocorre com todos os livros que lemos. Conheci um pouco da Colômbia com García Márquez, do Peru com Vargas Llosa, de Portugal e das Canárias com Saramago.
Óbvio que o atrativo do Caçador de pipas é a maioria das pessoas não ter idéia remota do que acontece no Afeganistão!
Sempre penso nisso: como sabemos tão pouco sobre os lugares que não estão sempre nos cinemas, na tevê, nos livros. E toda vez imagino o quanto sabem pouco de nós, também. É natural, acho. Só os muito cultos conhecem muito de muitos lugares do mundo, penso pra justificar minha ignorância.


Mas O caçador de pipas me trouxe várias outras reflexões: como é doloroso ter a vida completamente modificada de um momento pro outro. Como ter dinheiro, propriedades e até prestígio não garante em nada que você vai manter tudo isso pra vida toda, se bem que o prestígio, se vindo de uma boa origem, como fazer o bem indiscriminadamente, permaneça e possa ajudar muito a segurar a barra, mesmo que se percam as coisas.
E como, afinal, mesmo quem perdeu tudo o que tinha muitas vezes não percebe que, quando tinha, vivia melhor que muita gente, que já levava uma vida bem difícil antes do seu país se desmantelar todo.


Outra coisa importante que pensei é como a covardia não leva a lugar nenhum.
Eu me considero MUITO medrosa. Morro de medo de agressão, mutilação física. Acho que, se me visse ameaçada de apanhar muito, ia desejar por tudo que algo mágico ou alguém heróico me salvasse. Mas a história de Amir mostra de modo meio simbólico que, se a salvação vier pela covardia, você nunca fica livre, a menos que enfrente um dia a dor que evitou ao ser covarde.


Aliás, isso me lembra que, apesar de eu ter me emocionado tanto com o livro a ponto de quase chorar em alguns momentos, alguma coisa no estilo do autor não me agradou totalmente. Ele tem um negócio de mudar toda hora o tempo da narrativa, com verbos ora no presente ora no passado, que me incomoda um pouco.
Além disso, achei que a história vinha muito boa, bem dosada com a ficção num contexto muito realista, mas o momento máximo da resolução do conflito - digamos assim -, o auge da redenção ficou muito irreal. Aquele personagem me pareceu fora de lugar. Achei que o autor forçou a barra pondo-o ali, não precisava. Ajudou pra formar a simbologia de que falei ali atrás, mas, mesmo assim, achei muito exagerado e inverossímil. De qualquer modo, no geral é um bom livro, e vale mesmo as tantas recomendações que recebe.
Tanto que vou ler, quando der, A Cidade do Sol, que também anda elogiadíssimo.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Revista

Esses dias tava procurando uma leitura mais leve e rápida, pros momentos de espera que às vezes ocorrem no meu trabalho, e lembrei de umas revistas Vida Simples que tinha comprado.
Eu cismo um pouco com revistas. Fico pensando se o povo não inventa uns troços só pra fazer a gente gastar mais, sabe como é? Mas consegui deixar minha desconfiança de lado porque o nome e a cara da revista me conquistaram de imediato. Tem um projeto gráfico muito bonito, que, óbvio, prima pela simplicidade. Todas as capas têm uma foto e uma cor básica. As matérias de capa são focadas em atitudes ou observações que podem ajudar a simplificar a vida mesmo, o que tem sido meu principal objetivo ultimamente.
Toda vez que a vejo na banca fico a fim de ler, mas o preço me segura. Acho caro pagar quase 10 pratas por uma revista! Tudo bem, sou pão-dura. Mas é só pra algumas coisas... fico tentando economizar com o que parece supérfluo.
Ontem, porém, me ocorreu que ler uma revista boa pode ser tão instrutivo quanto ler livro. Aliás, foi na Vida Simples que li uma matéria muito maneira sobre o Guimarães Rosa, descobri uns troços que nem imaginava. Tudo bem que não sou assim uma pessoa muito culta e bem informada, mas por isso mesmo a revista foi útil, uai!
Enfim, agora tou até pensando em assinar a revista, porque aí diluo a despesa e não sinto tanto!
Aí de vez em quando dou mais umas dicas de matérias legais.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Ai ai ai

Menino, fui dar uma passadinha na Casa da Daniela, minha amiga que foi morar longe. Ela é divertidíssima pessoalmente, claro que tem de ser quando escreve, né? De lá, fui ver e conhecer a amiga dela, minha xará, de quem ela falou ultrabem quando estivemos juntas comendo crepe, mês passado.
Conclusão: tou morta de vergonha! Elas são tão naturais, divertidas, variadas nos assuntos. Tão cheias de opiniões definidas sobre tantas coisas legais!
E eu, uma formalidade só, séria toda vida, crítica demais! Que raios eu tinha de inventar de fazer um blog??
Ainda que fiz de livros, mormente, justo porque acho que minha vida cotidiana é bestinha pra comentar por aí, e o que interessa mais é o que leio e vejo e ouço. E mesmo assim já tou achando bobinho...
Vão lá dar uma olhadinha nas meninas, elas são demais!

"Travessuras da menina má"

No começo do ano ganhei, de aniversário, as Travessuras da menina má, do Vargas Llosa.
Apesar de meu professor mais querido da juventude (quiçá de toda a vida), de Literatura, sempre dizer que era um de seus autores preferidos, de quem gostava mais até que do García Márquez (um de meus ídolos), eu nunca tinha lido nada dele, nem mesmo A guerra do fim do mundo.
Há uns anos tentei ler A festa do Bode, também presente, mas não consegui passar das primeiras páginas.
Pois A menina má me surpreendeu. Leitura boa, que flui e diverte; instrui; emociona, também. Tá certo que dá a maior raiva da Menina Má. E mais ainda do Bom Menino!
E tem uma certa passagem que me deixou triste, incomodada, mas isso é porque não lido bem com algumas perversões. De qualquer modo, recomendo.
Vale observar o que diz um amigo/colega de profissão do Bom Menino sobre o trabalho que fazem. Eu, que vinha admirando totalmente o cara por trabalhar naquilo, tive de ver o caso por outra ótica. Não conto pra não estragar a descoberta de quem for ler. Embora não seja propriamente uma história de suspense, respeito quem curte descobrir por si mesmo, como eu!

A propósito: depois até retomei A festa do Bode, e gostei mesmo. Mas abandonei por razão emocional: as crueldades das ditaduras e dos ditadores com seus capangas não me descem pela garganta. E hoje em dia não leio ou vejo o que me faz sofrer, salvo especialíssimas exceções. Quem for mais frio, sugiro que se arrisque também pela Festa e outros Vargas Llosas. Depois me conte, ok?

domingo, 2 de setembro de 2007

De vez em quando penso em reler o Ensaio sobre a Cegueira, mas fujo por medo. Sofri muito quando o li, cheguei a chorar (o que era embaraçoso, já que às vezes estava no trabalho e tinha de ir ao banheiro, pra não ter de explicar por que tinha começado a chorar. Eles não entenderiam que um livro havia sido a causa!) algumas vezes.
Fico dividida em continuar repetindo que é um os meus livros preferidos e já não lembrar detalhes seus. Mas adio o momento de enfrentá-lo novamente.
Pois nos Cadernos de Lanzarote, quando alguém - procurei o trecho para registrar os detalhes, mas não encontrei; fico devendo - propõe a Saramago fazer o roteiro do Ensaio para transpô-lo ao teatro, ele diz que não poderia, não agüentaria sofrer novamente toda a angústia que tinha vivido ao escrever o original.
Eu me senti menos covarde, afinal.
Vou ler, antes, alguns que minha irmãzinha diz serem mais alegres.
Depois conto.
Pra não ser estraga-prazer!

No começo, eu evitava falar das tramas dos filmes, livros e séries que comento aqui, mas isso limita muito e, com o tempo, dei mais liberdade às minhas postagens.
Porém, como eu não gosto que me contem as histórias, como eu adoro as surpresas que os criadores geralmente nos preparam com tanto esforço, não quero estragar o prazer de ninguém.
Se você é como eu, melhor ler ou ver antes. Mas convido-o a voltar depois, pra saber o que eu achei.